DIA 17: PROGRAMAÇÃO FIF-BH

BELO HORIZONTE EM FOCO

Maratona fotográfica leva trabalhos autorais para prédios da cidade. Bate-papos e palestras completam a movimentada programação

Nesta quarta-feira, dia 17, o FIF – Festival Internacional de Fotografia chegou às ruas de Belo Horizonte. Como desdobramento da Maratona Fotográfica, atividade que mobilizou, entre os dias  5 e 15 de julho, 20 fotógrafos para a produção de trabalhos autorais na cidade de Belo Horizonte. Os ensaios produzidos serão projetados em prédios da cidade ao longo dos dias 17, 18, 19 e 20 de julho. Nesta quarta-feira, os trabalhos puderam ser vistos na parede cega do prédio localizado na esquina entre a Rua da Bahia e a Avenida Afonso Pena.

“A Maratona é uma atividade baseada na troca de experiências entre os artistas e também com a própria cidade. Ao longo de dez dias, os fotógrafos são estimulados a percorrem as ruas de Belo Horizonte para a construção de imagens e se valem da própria cidade para projetar essa visualidade, passado por um filtro de intenção poética”, destaca Guilherme Cunha, um dos idealizadores e coordenadores do FIF-BH.

Além das projeções, bate-papos, palestras e o último encontro das leituras de portfólio também fizeram parte da programação. No Museu Mineiro, os orientadores Alexandre Sequeira, Daniella Géo, Isabel Florêncio, e Daniel W. Coburn se reuniram uma última vez com cerca de 20 fotógrafos para análise de trabalhos e trocas de experiências.

Bate-papos

Às 10 horas, o Espaço Tim UFMG Conhecimento recebeu Marcílio Gazzinelli para mais uma edição do Circuito Café. Para Gazzinelli, a fotografia é uma paixão antiga. O mineiro trabalha na área desde 1980, ano em que abandonou a graduação em Geologia e escolheu a fotografia como profissão. Atua principalmente no mercado de registro de imagens aéreas e industriais, mas, desde o início da carreira, desenvolve um forte trabalho autoral, buscando histórias que passam despercebidas para a maioria das pessoas.

No CentoeQuatro, às 16 horas, foi a vez de Dirceu Maués falar sobre sua trajetória e trabalho. Nascido em Belém, no Pará, Dirceu vive hoje em Brasília, onde se graduou em Artes Plásticas pela UnB (2012) e é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arte. Atuou como fotógrafo dos principais jornais impressos de Belém (PA) entre 1997 e 2008 (O Liberal, Diário do Pará e Amazônia Jornal). Em 2003, iniciou trabalho autoral nas áreas da fotografia, cinema e vídeo, que têm como base pesquisas com a construção de câmeras artesanais e utilização de aparelhos precários.

Desobediência visual

A palestra do FIF-BH desta noite, no CentoeQuatro, foi com Kency Cornejo, que abordou a colonialidade visual e suas consequências nos dias atuais. Na palestra “Desobediência visual: a arte contemporânea e a fotografia na América Latina dos séculos XX e XXI”, a doutoranda em História da Arte e Estudos Visuais na Universidade de Duke (EUA) explicou que “desobediência visual” é um ato político, mas vai além da política partidária, panfletária, ou de conceitos como esquerda e direita, governo e indivíduo. A desobediência visual lida com a lógica do sistema, com o contexto da cultura estudada. É uma desobediência do conhecimento.

Kency Cornejo explica que, historicamente, a dominação, por exemplo, de indígenas e negros, se dá não só através da violência, mas também da arte. “Para colonizar é necessário mudar a maneira como o outro vê”, afirma. No caso das colonizações nas Américas, os europeus ignoravam os conhecimentos indígenas – arte, política, religião – e construíram uma nova identidade. Segundo Kency, os espanhóis não entendiam o conhecimento e a arte indígenas – pensavam que eles não sabiam registrar sua história e por isso se proclamaram as pessoas capazes de fazer isso.

Mais recentemente, na Guatemala, em uma tentativa de dizimar a cultura indígena, campanhas militares perseguiram e assassinaram cerca de 30 mil índios. Quem usava roupas ou acessórios indígenas também eram perseguidos e assassinados – inclusive crianças indígenas, consideradas como “sementes do mal”.

Muitas dessas “sementes do mal”, que conseguiram escapar da morte, são artistas atualmente na Guatemala: Benvenuto Chavajan, Sandra Monterroso, Antonio Pichillá, entre outros. Estes artistas usam, principalmente, a expressão corporal como forma de desobediência visual. O importante para eles não é impor seu conceito de arte, mas entender sua forma de expressão e enxergar o mundo. “Desobediência visual não é apenas o que o artista cria, mas o que nós consumimos e entendemos de arte”, explica.

Esta dominação visual ainda persiste nos dias de hoje através da cultura de massa e padronização cultural. Kency explica que se por um lado ainda existe a colonização visual, por outro existe a resistência – desobediência visual – pelos mesmos meios de comunicação usados para impor, mostrando uma forma de enxergar o mundo e a arte por outro viés além do imposto.


Texto: Cobertura Colaborativa do FIF-BH 2013, com Naiade Bianchi